“A palavra foi dada ao homem para explicar os seus pensamentos, e assim como os pensamentos são os retratos das coisas, da mesma forma as nossas palavras são retratos dos nossos pensamentos.” Jean Molière

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Identidade sem terra




Nossa terra de exílio é nossa própria terra!
 
Nela, caminhamos como estrangeiros...
 
Nela, mendigamos por respeito e consideração...
 
Somos lendas vivas de um olhar folclórico
 
Que nos vê como páginas vivas
 
De um passado morto a ser preservado em fotografia!
 
Mas temos nossa identidade

Ainda que roubada nossa dignidade humana,
 
Ainda que escravos e vítimas do capitalismo

Que destrói as entranhas da Mãe Terra com o seu progresso...
 
Nossa identidade, nosso chão interior,
 
Nossa bagagem ancestral nesta terra de exílio!


(Poesia de Elisangela Dias Barbosa)

domingo, 23 de setembro de 2012

Meu poema perdido























Tive a capacidade de perder um poema...

Amado meu onde foste parar?

Quero mergulhar no teu lirismo,

Explorar tua palavra invisível,

Encontrar-me em teus versos...

Mas onde estás?


(Poesia de Elisangela Dias Barbosa)

sábado, 22 de setembro de 2012

Com Cristo Migrante.wmv





Existem canções que expressam muito bem nossos sentimentos profundos. Esta é uma dessas. A letra me inspira sempre mais a acreditar no homem-humanidade, protagonista de sua história e de sua fé em Jesus de Nazaré.
Tem nosso rosto latinoamericano... Tem sabor de garra e determinação... Tem a esperança-certeza de um novo amanhã, cantada na voz das juventudes, alimentada nos passos de cada homem peregrino.
"Com Cristo migrante... levamos ao mundo mensagens de amor... abrimos caminho para o reino de Deus.. peregrinamos até a unidade... vivemos um sonho que se faz realidade".

Sou urucum




Foto: Elisangela Dias Barbosa.
  

Natureza morta
É boca sem sorriso,
Olhar sem esperança,
Pés sem rumo.

Quadro sem cor de um eu que já morreu.

Nasci de novo.

Hoje sou urucum:
Cor da vida,
Cor da guerra,
Encanto explosivo natural,
Tinta sagrada do guerreiro,
Segredo de mulher.

(Poesia de Elisangela Dias Barbosa)

Clausura ecológica



Foto: Google Images.
 
Vi a aurora,
Nadei no rio,
Tomei meu mingau de carimã...
Agora pego meu arco e minha flecha
Para entrar nas veredas da floresta,
Meditar seus sons,
Contemplar seus sinais,
Reverenciar os gigantes verdes enraizados,
As árvores.
Silêncio da mata é oração da alma:
Clausura ecológica
De quem quer escutar Tupã,
Colher suas palavras
Que se revela na criação.

(Poesia de Elisangela Dias Barbosa)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Guerreiros "vagalumes"


Foto: Google Images.

Meu espírito vagabundo
Sopra forte dentro de mim...
Por um momento,
Não sei quem sou e nem o que serei...
Estou na metamorfose do tempo
Em um espaço limítrofe,
Quilômetros e quilômetros
Longe de meu povo...
E esta vida louca
Tento atravessá-la,
Sob forte ventania,
Deixando aflorar minha loucura da alma
Que me diz para ficar,
Que me diz para ir...
Qual voz tem razão nessa louca indecisão?
Tupã me deixou livre no caminho,
Mas esqueceu-se de indicar a estrada...

Tupã, o mais louco dos loucos,
Tira seus guerreiros da aldeia
Para que andem como vagalumes na noite escura
A iluminar a trilha dos homens embrenhados na grande Floresta...
Arco e flecha na mão,
Caminham solitários
A escutar o canto da tribo,
Bem longe,
A dizer-lhe que não estão sozinhos nessa travessia:
Guerreiros são guerreiros porque caminham com os pés
E voam com a alma até a Maloca Mãe...
Lugar onde deixaram seu coração
E para onde voltam no pensamento
Pela força da saudade!
Mas tudo isso é culpa de Tupã
Que não deixa seus guerreiros em paz
E coloca vento em seus passos
Para que sigam em caminhada,
Na trilha da vida,
Até descansarem na tão esperada
Terra Sem Males!

(Poesia de Elisangela Dias Barbosa)

A vida de cada dia


A vida vale a pena
Sempre e em qualquer circunstância!
Caminhei muito...
Subi serras.  Atravessei rios. Cruzei mares. Contemplei outros céus. Atravessei fronteiras.
Apesar de tanta estrada,
Sob o sol quente ou sob a sombra refrescante da vida,
Carrego comigo minha bagagem de palha especial:
Um coração repleto de rostos,
Dos amigos e da família...
Lembranças daqueles dias que me fizeram dizer:
"Hoje, valeu a pena viver".


(Poesia de Elisangela Dias Barbosa)

Tempestade e calmaria

Foto: Rosely Camargo. “Eu acredito e sempre acreditei na vida”.

Sentada à beira do rio,
Apoema vê as águas agitadas
e o forte vento
que teima em levar sua canoa.
Sabedoria de guerreiro é esperar a aurora
e o canto dos pássaros ao amanhecer.

(Poesia de Elisangela Dias Barbosa)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Dança do vai e vem de Apoema

Lá vem ela de novo
Trazendo nas mãos seu arco e sua flecha...
Corpo pintado pra guerra deflagrada em seu ser...
Não tem respostas,
Somente perguntas preenchem a bolsa vazia que traz consigo.
No universo da Mãe Terra
Pergunta a si mesmo:
Em qual lugar do mundo
Fazer maloca?
Onde plantar os milhos
E preparar o ventre para gerar vida?
Onde está o guerreiro da mata,
Perscrutador de meus segredos de mulher?
Lá vai ela, Apoema,
Sentindo o cansaço dos passos solitários
Que, vez ou outra, apodera-se dos grandes guerreiros.
Lá vai ela,
Espírito errante,
Com desejo de pegar sua canoa
E remar contra a corrente
Até ao extremo norte de sua vida...
Lá vem ela na incerteza
Do que se deve fazer.
“Tupã não fala, nem se manifesta...”
Para onde seguir a trilha?
A um belo horizonte ou a uma boa vista?
Incerteza da alma,
Dúvida humana que nenhum outro pode responder...
Mas lá vai ela,
Seguindo lentamente seu caminho,
Para não perder de vista os sinais
Que a indicarão o rumo a seguir...
Arco e flecha nas mãos,
Corpo pintado,
Olhar sondador da Floresta da Vida...
A canoa por enquanto pode esperar às margens do rio...
Mas só por enquanto!
Link da Foto:
http://bercarionatural.blogspot.com.br/2012/06/indigenas-do-brasil-lingua-pintura-e.html
Poesia de Elisangela Dias Barbosa

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Diante de seus olhos


Olha eu aqui
Queimada pelo sol
De pés empoeirados...
Olha eu aqui
Insistindo em ter fé,
A sua fé de profeta do reino de Deus...
Olha eu aqui
Com a última chama de esperança
Que teima arder em meu coração...
Olha eu aqui
Com minha voz rouca
Pelo choro engolido
Ousando ser voz de quem não tem voz...
Dá-me da migalha de seu amor,
Só isso me basta,
Contanto que meus irmãos
Sejam saciados com o pão da fraternidade e solidariedade...
Dá-me um pouco de seu olhar sob minhas feridas,
Contanto que olhe para as feridas mais profundas do Corpo Humanidade.
Não quero muito,
Só quero o pouco que se multiplicará em comunhão!
Não preciso do vento forte,
Quero somente sentir a brisa leve
A soprar delicadamente a chama da esperança
E a aumentar o fogo de minha fé!
Não acredito por mim mesma,
Acredito por sua fé em nós,
Pobres criaturas...
Porque está em mim
Como também está no outro...
Ajude-nos a descobrir seu rosto mutuamente!


(Poesia de Elisangela Dias Barbosa)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Canta Apoema!








Canta, canta Apoema!
Canta a canção que te ninou!


Minha canção de berço foi o barulho das águas
a correr nos Igarapés!


Canta, canta Apoema!
Canta a canção que te viu crescer!


Minha canção de infância foi o barulho dos galhos secos
da floresta que desvendei com meu olhar de menina!


Canta, canta Apoema!
Canta a canção que te viu florescer!


Minha canção de cunhã foi o brilho das estrelas...
encanto aos olhos, suspiros no coração!


Canta, canta Apoema!
Canta a canção que te faz sofrer!


Não sofro, não, senhor! Só vivo mal de amor...
Mas essa canção é o segredo sublime sagrado
de Apoema mulher.



Poesia de Elisangela Dias Barbosa

Foto origem: <www.coisaseloisas-carla.blogspot.com>.