“A palavra foi dada ao homem para explicar os seus pensamentos, e assim como os pensamentos são os retratos das coisas, da mesma forma as nossas palavras são retratos dos nossos pensamentos.” Jean Molière

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Dedo de prosa

Foto: Elisangela Dias Barbosa.

Mãos enrugadas, marcas do tempo, alisam meus cabelos, afagam meu coração.

_ O que minha netinha vai ser quando crescer?
_ Professora!

Sorriso no rosto. Brilho nos olhos. Constatação da história. Comoção da alma.

_ Estuda minha filha... Estuda minha filha...
_ Eu estudo vovó. Eu gosto de estudar. Eu gosto de ler, de desenhar...

Silêncio. Contemplação de um futuro distante.

_ Quando eu for professora vou comprar um monte de coisa legal pra você vovó.

(Gargalhada)

- Vou comprar um fogão, uma geladeira, uma TV, uma máquina de lavar roupa, um ferro de passar...

Aculturação infantil:
Queria eu, com meus nove anos de idade, mudar a mente de minha avó. Não ter certas coisas não quer dizer ter falta delas. Pode significar jeito de viver sem. O que meus olhos percebiam como falta os de minha avó percebiam como essencial.

Um avião passa por cima da casa.

_ Escuta vovó o avião! Quando eu for professora, vou levar a senhora para viajar comigo. Vamos conhecer muitos lugares.

(Outra gargalhada, agora mais forte e mais incrédula)

O tempo passou e ela se foi. Não tive tempo para comprar o que lhe havia prometido.
Ela se foi e nem pude me despedir. Má sorte de muitos que não puderam estar ao seu lado no momento da passagem para a tão sonhada Terra Sem Males.
Com certeza, chegou lá com a alma pintada de vermelho e preto, toda pronta para a festa... Deve ter sido acolhida pelo guerreiro do cavalo branco. O vencedor da Tribo de Judá deve ter acolhido a filha guerreira da Tribo dos Macuxis... A andarilha de terras distantes.
Eu também me tornei andarilha. Voei céus. Cortei fronteiras.
Nos meus passos, ela foi comigo, porque guerreiro que é guerreiro não morre, permanece vivo no coração de sua gente.
Então lá fomos nós, nas asas da memória, para outras terras distantes, para outras terras do Brasil... Agora estamos em Minas Gerais!

Poesia/Prosa de Elisangela Dias Barbosa


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