Um dia no barco,
Subindo as águas do rio
Escutei alguém me dizer:
“Vai, deixa-te guiar pelas águas do rio...”
Meu coração criou asas
Meus pés percorreram as trilhas do mundo
Meus olhos contemplaram outros rios...
Deixe-me guiar pelas águas do rio
Só não imaginava que sua correnteza me levaria para tão longe
Para longe dos meus e do que era por mim conhecido...
Não reclamo... Sou filha da Mãe Terra
E se sou sua filha
Ela está a me proteger onde quer que eu esteja...
Hoje,
Sou Apoema mulher
Com recordações de Apoema criança...
Recordações que fazem brotar em mim o rio saudoso
Que insiste em percorrer meu rosto...
Meu pensamento voa nas asas do gavião
Para sentar à margem do antigo rio de minha vida
Todo branco e majestoso
Que se tornava mais belo com o balé dos botos,
Meus companheiros de conversa.
Ó MãeTerra!
Olha por tua filha Apoema,
Hoje com canto triste e saudoso,
Mas sempre confiante em tua Providência.
Dá-me mais força aos braços para sustentar com fé e alegria o remo de minha vida
Sobre as águas do rio que percorro
Na canoa sagrada...
Meu coração aperta
Minha alma chora
Mas tenho certeza que a tua Esperança cantará mais forte em mim.
Onde está o guerreiro do rio
Para ajudar-me a remar?
Estará ele tão insensível diante de Apoema?
Ou as margens de seu rio estão ainda tão distantes de minha canoa?
Ó minha Mãe Terra,
Permita-me chorar!
Sou guerreira das águas,
Mas guerreiros também choram...
Os rios da alma
Transbordam seu rosto
E a libertam de seu cativeiro...
Benditas lágrimas que me fazem voltar
Às margens antigas do rio de minha vida.
(Elisangela Dias Barbosa, 14 de agosto de 2012)