“A palavra foi dada ao homem para explicar os seus pensamentos, e assim como os pensamentos são os retratos das coisas, da mesma forma as nossas palavras são retratos dos nossos pensamentos.” Jean Molière

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Asas

Foto: Elisangela Dias Barbosa, 2013.


Percebi 
que tinham roubado 
minhas asas 
quando 
meu coração
pediu 
para voar.


Elisangela Dias Barbosa

Canção do rio

Foto: <http://www.lucianocastro.com.br>.


 Quando sinto a carícia do vento em meu rosto
fecho os olhos e voo no tempo: 
imagino-me sentada às margens de meu rio 
que se deixa tocar pelo vento 
e, de modo harmônico e natural, 
canta a sua canção equatorial aos meus ouvidos.

Elisangela Dias Barbosa



Chama da Fé

Foto: Arquivo IPJ-Leste 2.



Para noites frias e sem estrelas
a chama da fé alimenta nossa esperança 
nesta longa trilha... 

Elisangela Dias Barbosa

Fragmento poético: Cora Coralina


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Feliz Dia da Saudade!


"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar."
(Rubem Alves)



Hoje, acordei e lembrei-me de alguém. Na verdade, não lembrei. Simplesmente, dei-me conta de que meu pensamento continuava em sintonia com meu coração. "Bando de traidores" que, quando se unem, "infernizam" nossa vida e nos fazem sentir sintomas de saudades, como já diz a canção de Marisa Monte.  
 Em nosso calendário social eis que hoje é o Dia da Saudade!  
Como assim?  
Saudade tem data?

Ela que tem a porta aberta para entrar e sair de nossos dias!  
Então, ao longo desta jornada, reservei meu momento saudoso. Diante dela, da Saudade, revirei meu "baú de memórias". E do que senti saudade?  
Senti saudade da infância no rio, das viagens de família na canoa, das pescarias recheadas de aventuras e medos infantis...  
Senti saudade da casa de barro e palha de meus avós macuxis e da sua convivência sóbria no mundo e da humildade tecida nos relacionamentos cotidianos...
Senti saudade da adolescência esportiva, do basquete, da natação, das competições, das medalhas, das derrotas... Fase importante que me fez crescer no exercício de domínio de si, da disciplina, do trabalho em equipe e da ousadia em querer avançar...  
Senti saudade da minha turma de Crisma! Novos amigos! Novos horizontes! Novos sonhos! Novos heróis: São Francisco, Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King, Gandhi...  
Nossa! Quanta coisa nesse meu baú!  
Senti saudade de minha comunidade eclesial de base, lugar de grande aprendizado da vivência comunitária. Ali, tive a sorte de caminhar com grandes mestres da comunhão pé no chão e estreitar laços de amizades que durariam para sempre, sendo reavivados pela bendita Saudade...  
Senti saudade da juventude que conheci em São Paulo...  
Senti saudade dos amigos que deixei em São Paulo...  
Senti saudade do curso de português que dava para os refugiados da ACNUR...  
Senti saudade dos amigos da faculdade e do Grupo de Estudo, dos meus queridos professores, nos quais percebi seu empenho ético e sua responsabilidade social no ato de ensinar...  
Senti saudade das pessoas queridas que já não caminham mais por aqui, fizeram a sua viagem para a Terra sem males... São estrelas no céu a iluminar o caminho...  
Por fim, concluo que sou um mosaico de Saudade. E quem não é?  
Meu coração e minha memória são marcos antropológicos de tudo aquilo que sou e que vivi...
Dizem que quem semeia amor, deixa saudade. Então minha saudade é fruto de tanto amor que as pessoas semearam em minha vida!  
Hoje, a saudade que mais me devora é aquela saudade de Deus. Aqui, no terreno do Mistério, poucas palavras. Nada pode explicar a saudade filial que chega a arrancar lágrimas quando, pelas estradas do mundo, sentimos na alma a delicadeza do amor desse Deus que é Pai-Mãe...

Quando nos sentimos em casa em qualquer parte do mundo, a nossa maior saudade é a saudade do céu! É o que experimento!  
A saudade das pessoas queridas e dos momentos maravilhosos vividos outrora é pincelada deste céu aqui na terra...  
A saudade de Deus é pincelada de fraternidade e solidariedade... Quem vê Deus, vê os homens... Quem vê os homens, vê Deus! E para Deus uma pincelada é obra de arte!

Então que a minha saudade seja para que o reino de Deus se instaure sempre mais em nosso meio... 
Nas pegadas proféticas de Jesus de Nazaré, o cara que mais sentiu saudade de Deus e de seu reino de Amor, que eu possa fazer da saudade meu elo divino entre Deus e os homens.

Feliz Dia da Saudade!

Belo Horizonte, 30 de janeiro de 2013.
Elisangela Dias Barbosa


Foto: Arquivo pessoal.

 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O que faço com minha cara de índia?

Foto: Elisangela Dias Barbosa.

E meus cabelos?
E minhas rugas?
E minha história?
E meus segredos?
Que faço com a minha cara de índia?
E meus espíritos?
E minha força?
E meu Tupã?
E meus círculos?
Que faço com a minha cara de índia?
E meu Tora?
E meu sagrado?
E meus "cabocos"? E minha Terra?
Que faço com a minha cara de índia?
E meu sangue?
E minha consciência?
E minha luta?
E nossos filhos?

Brasil, o que faço com a minha cara de índia?
Não sou violência
Ou estupro
Eu sou história
Eu sou cunhã
Barriga brasileira
Ventre sagrado
Povo brasileiro

Ventre que gerou
O povo brasileiro
Hoje está só... A barriga da mãe fecunda
E os cânticos que outrora cantava
Hoje são gritos de guerra
Contra o massacre imundo.

Poesia de Eliane Potiguara, extraída do livro "Metade cara, metade máscara".

Intruso Divino


Foto: Elisangela Dias Barbosa.


Quem é você que entra em minha vida
Causando a ruptura do que era com o que ainda estar por vir?
Quem é você que penetra meu coração
Acendendo a chama da vida,
A qual quer me conduzir por terras desconhecidas?
Quem é você que tira-me a certeza do que vivia
E faz-me buscar tua vontade divina oculta?
Incerteza ao mundo...
Clarividência aos olhos de minha alma!

Como escolher entre o concreto hoje, com tudo que sou e faço,
E o amanhã de tua vontade que ainda não se revelou?
Como viver com lucidez tua loucura divina em meus passos peregrinos?

Não sou mais “eu”...
Não sou mais aquele “nós” por mim conhecido.
Sou o novo eu em gestação, na abertura de um novo nós.
Sou casulo.
Sou diamante bruto, perdido no escuro da montanha,
Sob alta tensão e calor.
Sou casulo obediente ao tempo e ao processo,
Vigilante pela Luz e Liberdade!
Sou diamante bruto, pronto para ser lapidado por tuas mãos...
Você que entrou e penetrou minha vida e meu coração,
Por que ir embora enquanto já veio?!
Por que não ficar?
Sabendo que tudo mudou em mim...
Não tarde a revelar seu rosto
Intruso Divino,
Artista desconhecido,
Conhecedor de meu amanhã. 


Poesia de Elisangela Dias Barbosa